O papel do professor na construção da cidadania

Por Gabriel Chalita 

Desde os primórdios da cultura grega, o professor encontra-se em uma posição de importância vital para o amadurecimento da sociedade e para a difusão da cultura. As escolas de Sócrates, Platão e Aristóteles demonstram a habilidade que tinham os pensadores para discutir os elementos mais fundamentais da natureza humana. Sabiam o que era importante, porque viviam da reflexão.
No processo de desenvolvimento das habilidades cognitiva, social e emocional dos alunos, o professor deve levá-los a refletir acerca de questões condizentes com os problemas enfrentados no dia a dia. O grande desafio do educador é estimular e convencer o educando a valorizar o bem comum, a boa convivência, a responsabilidade partilhada. O acesso à informação e à educação conduz à prática da cidadania.
O cidadão consciente respeita os espaços e as pessoas. A educação para a ética prepara o ser humano para o equilíbrio de aceitar que não devem prevalecer as vontades individuais; a cidadania, afinal, não é um direito solitário – é a arte da convivência social.
Eis o princípio básico da construção da cidadania: educar para a convivência pacífica, feliz. Educar para o respeito, para a troca de experiências, para o exemplo no trato com o outro e consigo mesmo. Educar para que todas as vicissitudes da vida sejam enfrentadas com galhardia.
A responsabilidade de formar indivíduos que respeitem os direitos e os deveres de cada um e de todos não é, obviamente, apenas da escola. No entanto, o professor tem de dar o exemplo – e o aluno precisa ter limites, ciente de que liberdade não significa permissividade. Esses limites devem ser entendidos como necessários e provenientes da autoridade do professor, para que ele exerça com liderança e com competência seu mister. Também não é admissível que o mestre se valha de gracejos preconceituosos, e faz-se fundamental que utilize o tom adequado ao dirigir-se aos alunos.
Na construção da cidadania, urge que o professor utilize métodos e traga à baila discussões que despertem o interesse dos alunos. As novas tecnologias empregadas pedagogicamente estão à disposição do educador. Da internet à sucata, muito se pode utilizar para envolver o aluno e discutir aspectos contemporâneos que se relacionem com sua capacidade de melhor conviver em sociedade. Forma e conteúdo têm a mesma importância no ambiente educacional.
As práticas democráticas, o envolvimento efetivo dos alunos no processo de aprendizagem, a união entre conhecimento e reflexão conduzem à educação libertadora. Não se pode ensinar a importância da liberdade sem permitir que o aluno seja livre. Do mesmo modo, iniciativas de professores que busquem tornar mais rica sua função social de educar devem ser incentivadas.
Na obra Pedagogia da autonomia, Paulo Freire fala-nos do “sonho viável”, que só pode ser conquistado por meio da educação libertadora. O autor trata da necessidade de o professor avaliar constantemente seu trabalho, o que nos remete, mais uma vez, à reflexão cotidiana: “O sonho viável exige de mim pensar diariamente a minha prática; exige de mim a descoberta, a descoberta constante dos limites da minha própria prática, que significa perceber e demarcar a existência do que eu chamo de espaços livres a serem preenchidos. (...) A questão do sonho possível tem a ver exatamente com a educação libertadora, não com a educação domesticadora”.



Texto publicado na edição de julho de 2012 da revista Profissão Mestre.

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